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já posso fazer correr o lápis das minhas mágoas
sem já deitar a perder olhos desfeitos em águas

Coimbra, 1987
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menina circunspecta perto de fonte fresca




Ser de sempre
chilreante e cúmplice…
escolhida a azul e branca das caixinhas de latão:
Sendo a Nívea para a praia, era o Pomito Lencart
para os lábios do meu irmão.
Ser de sempre
chilreante e cúmplice…
Escolhido azul e branco, o biquíni Marie Claire
que me vai favorecer.
E a palhinha riscada do refresco de limão?
Azul e branca (e-vidente mente)!
Amiúde utilizada nas tardes quentes de Verão,
para beber a limonada e o sopro fascinante
(de sempre, efémero sempre)
das bolinhas de sabão.

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- como num retrato antigo -


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Despontará de novo um chá ao lume
de flor de tília, pálida e minúscula,    
no abraço almíscar do doce perfume:  
o da palavra breve mas esdrúxula.      




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prólogo de Caronte

regressava sempre à mesma hora
para ensaiar o olhar sinistro
nas vagas do crepúsculo despenhado

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                                                                                                      "o beijo" de Rodin


como se a ternura fora contemplação,
em vez de gesto,
assim de mármore o poema,
assim de lume o gesto contemplativo.





"o beijo" de Rodin - II

imobilizada na sede, a fonte viva












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E que outra coisa é o poema senão um fósforo brevíssimo entre dilúvios?